Talvez muita gente não saiba, mas Macau é um pedacinho da China que fala português. Por muitos séculos Macau pertenceu ao domínio português, mesmo sendo território chinês, só em 1999 é que Portugal entregou oficialmente a administração de Macau ao Governo da China. O português e chinês são línguas oficiais, mas o idioma predominante é o cantonês. Além desse você consegue encontrar o patuá (ou maquista), que é presença constante em grandes clássicos da literatura macaense por se tratar de um idioma antigo.
O cinema de Macau se destaca não por suas produções, já que
as produções cinematográficas locais levam o titulo de películas chinesas e não macaenses, mas seu destaque se dá por seus cinemas e pelos grandes filmes que já
foram ambientados por lá. A cultura
cinematográfica de Macau tem uma peculiaridade única: além de exibir em grandes
cinemas filmes chineses e americanos, costumam passar muitos filmes portugueses (talvez muito brasileiro nunca tenha assistido um filme luso) e também o cinema
francês. Não se trata de filmes que chegam ao circuito exibidor através da
televisão, mas que possuem estreia e período em cartaz como os grandes nomes
que vemos por aqui. Outra curiosidade sobre os cinemas de Macau é que os cinemas não são
cinemas, são teatros. Isso mesmo. Diferentemente dos cinemas que temos por aqui
em que temos uma sala que mesmo quando esta clara, esta escura (confuso, porém
real) e com número reduzido de poltronas em posição inclinada em relação a tela em que as imagens são exibidas a fim de proporcionar melhor conforto ao
espectador, em Macau as salas de cinema são grandes como as que nós vamos assistir peças e musicais (teatros), porém serve para assistir filmes, por isso também são chamados de Cine Teatros.
Alguns exemplos são: A Torre de Macau, o Cineteatro Macau, o
Cinema Alegria e os cinemas UA Galaxy que exibem grande variedade de filmes,
desde os mais recentes longas de Hollywood até aos filmes de Hong Kong e de
outros países (maioria da Europa), em confortáveis salas com ar condicionado e
grandes ecrãs.
O pequeno auditório do Centro Cultural de Macau também passa
filmes considerados clássicos e artísticos durante os festivais de cinema que
organiza anualmente: a Quinzena do Cinema
Português e o Festival de Cinema
Europeu.
Teatro Dom Pedro - fachada e interior
Entre os anos de 1900 e 1950, Macau bateu recordes de salas
de cinema e de espectadores dos filmes exibidos por lá, sejam eles nacionais ou
internacionais.
Macau também pode ser chamada de a segunda casa de James Bond, pois
desde a década de 60 o filme tem tido o território macaense como cenário de longas
metragens. Tudo isso em virtude do lado obscuro de Macau com fama de espiões históricos. O mais recente foi operação Skyfall que além de cenas rodadas em
Macau, também teve cenas em território turco.
Em 1923, no teatro Condes, estreou o documentário local
Aspectos de Macau, que apesar do sucesso de exibição, ainda não possuía som
naquela época. Acredita-se que esse tenha sido o primeiro documentário filmado
em Macau por Portugal. Pioneiro, Aspectos de Macau serviu de exemplo para mais
vinte e um documentários do gênero produzidos ao longo dos anos.
Nessa onda de documentários, surgiu “Patuá di Macau, unde tá
vai?” que se trata de um documentário sobre o Patuá, antiga língua Macaense que
corre o risco de desaparecer, já que ela não é mais ensinada e aqueles que
falam esse idioma são os cidadãos mais velhos ou de vilas mais afastadas. É
como se fosse o latim, que poucos falam, por isso é difícil encontrar algum
nativo ou falante do idioma em alguma parte do mundo.
Este registo audiovisual inédito mostra através de
diferentes testemunhos e imagens colhidas em Macau e em Malaca, as origens
desta língua cuja história está ligada à chegada dos primeiros portugueses a
Macau, e que sobreviveu essencialmente da transmissão oral passada de pais para
filhos ao longo de várias gerações.
O Instituto Internacional de Macau, sendo uma peça
importante na preservação e divulgação da identidade macaense, promoveu a
itinerância do documentário, cooperando com as instituições da diáspora por
todo o mundo. O documentário surpreendeu até os falantes do idioma, pois eles
mesmo não sabiam que a língua já existia há mais de quatrocentos e cinquenta anos.
O Patuá deriva da fusão entre o Português, Chinês, Malaio,
Inglês, Japonês e Filipino, e era falado por gente que não tinha oportunidade
de aprender o Português padrão através das instituições de ensino em Macau,
gerando ai uma espécie de código para se comunicarem.
Trailer do documentário “Patuá di Macau, unde tá vai?”
A Trança Feiticeira |
O escritor macaense Henrique de Senna Fernandes escreveu um
livro lançado em Macau e Portugal, denominado “Cinema de Macau” que descreve as
reações de um público macaense ávido de cinema, enquadrado num contexto
histórico e social, de salas de cinema míticas e seus personagens únicos. Henrique também escreveu um livro que logo ganhou uma adaptação para o cinema e atravessou fronteiras, sendo aclamado pelo público por onde passou. Trata-se de "A Trança Feiticeira", uma história de amor que ocorre em Macau entre um português rico e uma jovem chinesa pobre, onde o preconceito era explicito junto aos povos mestiços naquela época e que já se estranhavam desde o século XVI. O filme, além de romântico, retrata como foi a história de origem de muitos macaenses, já que parte do povo de Macau é o resultado, principalmente, da mistura entre portugueses e chineses. Se você gosta de ler, o livro é facilmente encontrado no site da livraria Saraiva e livraria Cultura. O preço pode variar entre vinte e trinta reais.
Uma aventura em Macau |
No ano de 1952, uma produção americana levou o nome de Macau para o mundo e talvez isso tenha feito com que tantos produtores de cinema decidissem utilizar as terras macaenses como pano de fundo de suas tramas. O filme em questão é o policial "Uma Aventura em Macau" (titulo original Macao), que conta a história de Vincent Halloran (Brad Dexter) um criminoso esperto e audacioso que vive em Macau e é procurado pela policia internacional. Devido um limite geográfico e o fato do último policial americano que o buscava ter sido morto, passa a ser proibido que a polícia internacional intervenha nos assuntos relacionados a Macau. Ainda assim, a fim de prender o homem que supostamente tem algo ver com o assassinato do agente americano que deveria ter o prendido, a polícia de Nova York manda um novo policial para as terras macaenses, mas no mesmo barco existe a bela e sedutora cantora Julie (Jane Russell) o empresário Lawrence Trumble (William Bendix) e o aventureiro Nick Cochran (Robert Mitchum) e a principal dúvida que paira sobre a trama é: Qual deles seria o policial infiltrado disposto a tudo para prender Halloram?
A Múmia III |
Isabella (2006) |
Macau exporta muitos talentos para o mundo, é o caso da atriz Isabella Leong. Isabella nasceu em Macau e é filha de pai português e mãe chinesa. Perdeu o pai quando ainda era um bebê e aos doze anos abandonou o estudos a fim de ajudar no sustento da família trabalhando como modelo. Sua beleza mestiça foi tão bem aceita que em pouco tempo tornou-se atriz e cantora em Hong Kong. Estrelou catorze filmes desde 2004, recebendo vários prêmios de melhor atriz por seus papéis nas tramas. Dentre os filmes de seu currículo, destaque especial para dois: Isabella de 2006 - filme de Hong Kong filmado em Macau, onde o titulo do filme nada tem a ver com a protagonista. Isabella é o nome do cão da personagem de Leong (Cheung Bik-Yan) que fica trancado dentro de um apartamento sozinho em Macau. A história tem o seu ápice quando Cheung vive um affair relâmpago com um policial corrupto e logo descobre que ele não é só mais um maluco no mundo: ele é seu pai. Começa então um misto de aborrecimento até a conquista de Cheong, que pouco a pouco começa a fazer parte da vida do pai Yang. Entre trancos e barrancos e um romantismo típico de Macau, o filme é uma comédia com toques de drama. O filme foi indicado ao Urso de Ouro por melhor filme e melhor trilha sonora, ganhando o prêmio de melhor trilha. O outro destaque fica para o terceiro e último filme da saga A Múmia, em que Isabella contracenou com o astro Jet Li.
Estes são alguns dos ingressos dos cinemas Macaenses
Alguns importantes títulos do cinema que tiveram Macau como cenário.
Fato interessante quanto a Shanghai Surprise, filme de 1986 estrelado por Madonna e Sean Penn: Durante a gravação das cenas, Sean foi preso em Macau após sua reação ao ter encontrado um homem em seu quarto. Sean e seu amigo o penduraram na varanda do prédio pensando ser o homem algum perigo para eles já que ele havia invadido o quarto. Após alguns instantes perceberam que se tratava apenas de um pararazzo sem limites. O problema é que a polícia já havia sido acionada e eles foram presos, mas por um descuido meio cinematográfico, os policiais deixaram a cela em que estavam aberta e o ator e o amigo fugiram de Macau. Pouco tempo depois, Sean recebeu o perdão português e pode concluir o filme.
Alguns trailers de filmes ambientados em Macau.
O Filme 1911- A Revolução (1911-Revollucion) estrelado por Jack Chan foi ambientado em Macau e é baseado em fatos reais da pior fase da história da China.
007 - Operação Skyfall é um dos filmes da trilogia policial do agente mais famoso do mundo.
Comédia com Rowan Atkinson, o famoso Mister Bin, que encarna uma versão divertida de James Bond, também ambientado em Macau assim como os filmes originais de Bond.
O Arqueólogo mais famoso do mundo viajou até Macau para realizar a sua última Cruzada... e lá depois de salvar seu pai, descobrimos que não seria a última e outras muitas missões surreais estavam por vir.
PS: Este artigo completo só foi possível graças as dicas e correções de meu ex professor de História, Literatura e Cultura de Macau. Professor Sérgio Antunes, muito Obrigado.
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